13 de julho de 2013

Autismo, conhecendo um pouco...

Gentxe amada, hoje tem participação no Blog que eu tanto queria....
 O tema é o AUTISMO (me interesso desde sempre por este tema), e foi escrito pela amada Mari Lira que sempre prestigia o Blog e é profissional de Psicologia. Desde já agradeço a linda colaboração.
 
Mais deixemos de lero lero, vamos nos informar???
 
 
A novela Amor à Vida, da Rede Globo entre tantas estórias marcantes, traz uma em especial que me chama muitooo à atenção por fazer parte do meu cotidiano de trabalho.  A personagem da bela atriz Bruna Linzmeyer, Linda, é autista e a novela acerta em cheio (pelo menos no meu coração) ao abordar esse tema. Vamos conhecer um pouco.

Segundo o artigo “Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento” de Carlos A. Gadia (2004) o autismo não é uma doença única, mas sim um distúrbio de desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com causas múltiplas e graus variados de severidade. Pode ser influenciada por fatores associados que não necessariamente sejam parte das características principais que definem esse distúrbio.

Um fator muito importante que podemos identificar são interferências na habilidade cognitiva. As manifestações comportamentais que definem o autismo incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades.

O que isso tudo quer dizer? A pessoa portadora desta síndrome tem grande dificuldade de interação e comunicação voluntária e em função disso, todas as suas outras habilidades esperadas pelo meio social ficam comprometidas. Normalmente é uma síndrome identificada na infância, pois algumas crianças tem dificuldade em se comunicar através da fala, talvez seja esse o primeiro sintoma que chama atenção da família.
Em alguns casos são crianças que chegam ao serviço de saúde ainda sem diagnóstico definido, pois como em alguns casos o que mais incomoda é a ausência de fala, a família procura por achar que a criança pode ser surda (na linguagem comum surdo-muda, termo errado). Outros sintomas podem chamar atenção como choro constante, gritos descabidos, comportamentos repetidos, dificuldade em se separar de objetos, dificuldade ou impossibilidade de tocar e ser tocada ou até mesmo olhar nos olhos. Muitas vezes a criança pode chegar ao serviço de saúde, com diagnósticos equivocados como Síndrome de Down, Deficiência Mental, entre outras.  Isso tudo pode ocorrer por volta dos 2 anos de idade.
A família é o ponto chave do trabalho com pessoas portadoras da síndrome e é aí que a novela está ganhando meu carinho, ao mostrar a dificuldade que a mãe de uma criança/jovem especial tem em deixar a filha se desenvolver, pois falei até o momento em várias dificuldade vivenciadas pelo autista, porém com acompanhamento adequado ele pode e deve se desenvolver.
Como no conceito, descrito acima, a severidade de cada caso dirá do tipo de desenvolvimento e como o tratamento poderá ser desenrolado. Existem casos em que a criança evolui mais rápido, assim como existem outros em que esse desenvolvimento será bem lento. O que importa mesmo é que a criança seja estimulada para que consiga romper com suas dificuldades de interação e passa assim a se aproximar o meio social. Esse trabalho de preferência deve ser multidisciplinar, com psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos...
É exatamente nesse ponto que entra a família. Como está sendo demonstrado na novela, a mãe da Linda boicota várias vezes as sugestões do profissional, toma a frente nas atividades e limita a capacidade de respostas da moça. Na verdade a novela tem uma grande interrogação pra mim, pois como o irmão da moça é da área de saúde e ela nunca havia sido acompanhada, ah, deixa pra lá...
Contudo isso não é impossível fora da novela, pois muitas pessoas com esta síndrome foram escondidas durante anos, sendo taxadas de loucas ou deficientes, e a família não achava que poderia investir e ajudar. Talvez seja esse o ponto que vá conseguir alcançar mais gente, fazendo com que eles se identifiquem e procurem ajuda.
Na minha vida profissional me deparo e muito com casos semelhantes. Famílias que por medo se negam a acreditar no diagnóstico, não colaboram no tratamento, mas também me deparo com outras que ajudam muito e temos resultados incríveis. E como estou no serviço público de saúde, com todas as dificuldades que vocês possam imaginar, os pequenos ganhos dos meus meninos e meninas é uma vitória pessoal minha e da equipe que faço parte.

Pra fechar, queria contar a história de uma criança que atendi. Chegou com 4 anos ao serviço, filho de uma família do interior do interior da cidade onde trabalho. A mãe na época chegou muito assustada com o diagnóstico dado por um pediatra e se negava a aceitar que era isso que seu filho tinha e tentou por meses que a equipe dissesse que seu filho era surdo, por isso não interagia e não falava.

O trabalho foi realizado com eles, pois a família fazia exatamente TUDO que a criança queria para não “perturba-lo” e nos princípio os atendimentos eram difíceis, pois todo brinquedo que ele usava nas sessões ele queria levar pra casa e a mãe não entendia que as negativas faziam parte do acompanhamento.
Com o tempo ele entendeu que o brinquedo estaria lá quando ele voltasse (dificuldade em entender isso é um dos grandes sintomas, a criança acha que o brinquedo vai desaparecer) e passou a não chorar tanto. Passou a nos reconhecer e sorrir ao nos encontrar e hoje ele depois de quase 3 anos de acompanhamento já responde perguntas simples como Oi tudo bem?  e conta histórias como por exemplo quando chega com um brinquedo novo após o seu aniversário, sabe contar de quem foi que ele ganhou.
É um trabalho lento e difícil, principalmente pela falta de estrutura mais extremamente gratificante. Que a novela, lá no final, seja agente de transformação na vida de muitas pessoas, tanto os portadores da síndrome como de seus familiares e amigos!
Mariana Lira,  Psicóloga clínica, professora do Centro Universitário Mauricio de Nassau. Fones: 9933-6171/ 8834-6934
 

2 comentários:

  1. Muito bom o texto... orgulhoso de ler a respeito do tema e escrito por minha irmã, que é uma pessoa que ama sua profissão. Tive oportunidade conviver um fds com uma familia que tinham um filho autista e era bem no aniversario dele é impresionante como era lindo a atençao deles com o filho, incluindo palestras e acompanhamento para viver e dar melhores condiçoes ao filho.

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